Segundo dia de treinamento de liderança em uma multinacional. Falávamos sobre líderes x chefes. Aninha comentou ter tido em outra empresa um chefe terrível que tinha como hábito xingar e humilhar seus funcionários. Por várias vezes telefonava para eles no meio da noite para reclamar alguma coisa, sempre se utilizando de uma linguagem chula, para dizer o mínimo. Não foram poucas as vezes que Aninha se trancou no banheiro para chorar. Um dia, claro, não aguentou mais e pediu as contas.
Quando nos contou isso, o questionamento geral foi “Como uma empresa manteve uma pessoa assim?”. A resposta da Aninha foi imediata. “Tecnicamente ele era excelente! Uma autêntica referência no mercado em que atuava. Entregava resultados acima das expectativas. Por isso a empresa ia fazendo vista grossa e deixando ele por lá.” Mesmo com a alta rotatividade, a empresa mantinha o cara. Hoje, felizmente, temos a prerrogativa de denúncia por assédio moral. Imagino que o “poderoso chefão” tenha dançado.
Por que estou mencionando esse caso? Recentemente tenho lido diversos posts e artigos questionando a que devemos dar mais peso na hora de contratar um profissional: seus diplomas ou suas competências comportamentais?
Sempre respondo que, a meu ver, a segunda opção é a mais indicada. Então devemos desconsiderar a trajetória acadêmica? Banir a exigência de diplomas e certificados? Não! Cursos de formação e aperfeiçoamento têm e sempre terão valor. (Embora algumas grandes empresas não estejam mais exigindo diplomas, mas isso é assunto para outro artigo). O fato é que cada vez mais a Inteligência Emocional está se destacando como uma característica indispensável. Todos queremos fugir de profissionais como o chefe da Aninha.
Hoje, profissionais com acentuado déficit de Inteligência Emocional não são bem-vindos. Muitos de nós sabemos bem isso por já termos sido vítimas desses profissionais que nos levaram à loucura e criaram estragos importantes. Essas pessoas podem azedar uma equipe. Obstruir avanços dos demais profissionais. Levar discórdia ao ambiente de trabalho. E outros tantos prejuízos que têm forte impacto nos resultados desejados.
Por outro lado, algumas vezes um bom treinamento técnico pode transmitir os conhecimentos necessários para que um profissional realize com sucesso suas tarefas. O mesmo não acontece em relação a algumas competências comportamentais que também podem ser desenvolvidas, mas isso requer mais tempo e os resultados não são garantidos, pois entram em jogo características de personalidade preexistentes.
Outro fator importante é que a inteligência artificial está mudando o mundo. Diversas competências técnicas sequer precisam mais ser ensinadas. Elas já estão sendo realizadas por softwares, robôs e máquinas. E outras tantas, dentro de muito pouco tempo, serão. Exagero? Nem tanto. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Oxford indica que dentro de 20 anos 47% dos empregos terão desaparecido. Ou seja, todo aquele conhecimento técnico não servirá para nada.
Cada vez mais faz sentido a fala do sociólogo Domenico De Masi que lá pelos idos do ano 2000 vaticinou: “A sociedade pós-industrial privilegia a produção de ideias, o que por sua vez exige um corpo quieto e uma mente inquieta. (...) As máquinas trabalharão num ritmo sempre mais acelerado, e os seres humanos terão sempre mais tempo para refletir e para bolar, idear.”
Duro é constatar que as instituições de ensino que deveriam estar preparando seus alunos para entrarem no mercado de trabalho estão, em sua maioria esmagadora, ignorando essa mudança e continuam dando o peixe, quando deveriam ensinar a pescar. Exigem que os alunos decorem fórmulas, dados e fatos que serão deletados logo depois porque tudo isso já está à mão de um clique.
Não vemos, de uma maneira geral, qualquer preocupação mais séria em desenvolver as competências comportamentais dos seus alunos nem procurar despertar o legítimo interesse em adquirir conhecimento e se desenvolver continuamente. E esses alunos de hoje precisam mais do que nunca desse estímulo porque jamais deixarão de estudar. Foi-se o tempo que após concluirmos o curso universitário, passávamos a trabalhar e parávamos de estudar. Com exceção de uma ou outra profissão que exigia, a título de atualização, estudos contínuos. Naqueles tempos as mudanças e descobertas ocorriam a passos de cágado.
Quando a primeira máquina de escrever foi lançada no mercado, por exemplo, permaneceu atuante pelos 50 anos seguintes até se tornar obsoleta. Hoje, enquanto escrevo este artigo, novos softwares, hardwares e produtos de uma maneira geral estão sendo atualizados deixando para trás um rastro de obsoletismo.
Nos dias de hoje vivemos como se estivéssemos sempre sobre uma esteira rolante: para ficarmos no mesmo lugar, não podemos parar de andar. E se quisermos avançar, temos que acelerar o passo. Se pararmos? Voltamos para trás rapidamente.
O escritor e futurista Alvin Toffler, que de bobo não tinha nada, já nos alertava sobre todas essas mudanças quando disse a célebre frase: “O analfabeto do século XXI (e cá estamos nós) não será aquele que não sabe ler e escrever. Será aquele que não souber aprender a desaprender e a reaprender”.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, 65% das crianças que estão hoje no ensino médio vão trabalhar em profissões que ainda não existem. Quais são elas? Não sabemos.
Sim, mas você deve estar se perguntando: “Se não sabemos quais são essas profissões, como prepará-los?”. Essa é a resposta que algumas (poucas) escolas e universidades estão buscando. Estão procurando se reinventar.
Dentro desse universo uma universidade está se destacando. É a Minerva School que com o propósito de formar profissionais do futuro está, no presente, dando destaque ao desenvolvimento das competências comportamentais. As vagas são disputadíssimas por alunos de todas as partes do mundo. Seu modelo pedagógico e inovador foi criado pelo neurocientista e ex-decano do Centro de Ciências Sociais de Harvard, Dr. Stephen Kosslyn. A ideia central é ajudar os alunos a pensar. Crítica e criativamente. Por que estão fazendo isso? Porque estão certos de que as habilidades do futuro de destaque não serão as técnicas, e sim as comportamentais.
Ratificando essa tendência, o World Economic Forum listou as dez habilidades que farão a diferença nos profissionais do futuro:
1- Resolução de problemas complexos
2- Pensamento crítico
3- Criatividade
4- Liderança e gestão de pessoas
5- Trabalho em equipe
6- Inteligência emocional
7- Julgamento e tomada de decisões
8- Orientação a serviços
9- Negociação
10- Flexibilidade cognitiva
Uma olhada rápida e rasteira nessa lista nos mostra o quanto será decisivo desenvolver o autoconhecimento (base da Inteligência Emocional), saber se relacionar com os outros e ter capacidade de se reinventar e inovar. Todas que requerem o desenvolvimento de competências comportamentais.
Andréa Cordoniz