O Mito do Estilo de Aprendizagem: Por que ainda estamos falando nisso?
- Instituto DI
- há 1 dia
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Durante muito tempo, designers instrucionais, professores e facilitadores foram ensinados a adaptar conteúdos aos chamados “estilos de aprendizagem”. A ideia parecia fazer sentido: se um aluno é “visual”, é melhor usar imagens; se é “auditivo”, aposte em áudios; se é “cinestésico”, inclua atividades práticas. Esse tipo de categorização parece oferecer um caminho lógico para personalizar a experiência, mas a realidade do processo de aprendizagem adulta é bem mais complexa.
O que dizem as evidências
Estudos revisados por pares, conduzidos nas últimas décadas, mostram que não há comprovação consistente de que ensinar de acordo com o estilo de aprendizagem declarado de uma pessoa melhora significativamente o desempenho ou a retenção. Uma das revisões mais relevantes foi publicada pela Association for Psychological Science, indicando que não existe ganho significativo quando se tenta alinhar o estilo preferido de aprendizagem ao formato do conteúdo. Ou seja, preferir aprender ouvindo não garante que você vá aprender melhor com áudio.
Por que essa ideia ainda persiste?
O apelo dos estilos de aprendizagem está no seu poder de simplificação. Eles prometem personalização rápida e fácil, algo que soa atrativo tanto para educadores quanto para organizações. Ao classificar aprendizes como visuais, auditivos ou cinestésicos, cria-se a ilusão de que o conteúdo pode ser moldado sob medida — mas essa abordagem negligencia a complexidade da aprendizagem real. Muitas vezes, o mito é perpetuado por materiais de formação desatualizados ou pela falta de acesso a fontes confiáveis de atualização profissional.
O que considerar no lugar disso?
A aprendizagem eficaz não nasce da adaptação a estilos fixos, mas do uso de estratégias diversificadas e bem fundamentadas. O ponto de partida deve ser o objetivo de aprendizagem — o que se espera que o aluno seja capaz de fazer após o treinamento. A partir disso, é possível adotar recursos que favoreçam a compreensão e retenção, como o uso intencional de diferentes mídias, a promoção de experiências de aprendizagem ativa e a criação de atividades contextualizadas com a realidade do trabalho.
Caminhos baseados em evidência
Em vez de tentar “encaixar” aprendizes em rótulos, considere estas abordagens:
Multimodalidade estratégica: usar vídeos, textos, simulações e interações de forma complementar, não como resposta a um estilo, mas para aprofundar a compreensão.
Aprendizagem ativa: envolver o aprendiz em resolução de problemas, estudos de caso e projetos aplicados.
Feedback contínuo: criar oportunidades para testar e ajustar o aprendizado ao longo da jornada.
Carga cognitiva ajustada: balancear a complexidade e o volume de informações com o suporte necessário.
Conexão com a prática: quanto mais próximo da realidade do aprendiz, mais relevante o conteúdo.
No contexto da educação corporativa
Em T&D, insistir em estilos de aprendizagem pode desviar o foco do que realmente importa: impacto no desempenho. Um bom programa começa por entender as competências a serem desenvolvidas e os contextos em que serão aplicadas. Isso permite desenhar experiências que fazem sentido para o aprendiz e para o negócio. Mais do que adaptar o formato do conteúdo, o desafio está em construir sentido, promover reflexão e incentivar a transferência de aprendizado para a prática.
Personalização com propósito
Personalizar a aprendizagem não é (e nunca foi) sobre preferências fixas. É sobre observar comportamentos, mapear contextos e responder com flexibilidade às necessidades reais de aprendizagem. Quando o foco é ajudar o adulto a aprender o que precisa, para aplicar no que faz, a personalização se torna estratégica. Isso exige profissionais preparados para desenhar experiências robustas e centradas no aluno, e não apenas em modismos.
Conclusão
Avançar no campo da aprendizagem significa, muitas vezes, abandonar crenças populares em favor de práticas sólidas. O mito dos estilos de aprendizagem é uma dessas ideias que, embora bem-intencionadas, não se sustentam diante das evidências. Ao atualizar nossas práticas, elevamos a qualidade da educação corporativa, tornamos os treinamentos mais eficazes e, principalmente, respeitamos a inteligência e a complexidade dos adultos que aprendem.
Publicado por:IDI – Instituto de Desenho Instrucional
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